Pernambuco logo dominará o mundo!

“Todo mundo sabe que os pernambucanos estão por toda parte. Em geral, um sujeito calado, cabisbaixo, um guardador de carros em São Paulo, um chefe de restaurante na Madison de Nova York, o designer que bolou o logo da Eurocopa portuguesa, um borracheiro no interior da China… Não importa. O que pouca gente sabe é que, na verdade, isso é uma bem arquitetada jogada que visa plantar gente nossa em postos-chave da administração mundial.

Quando estivermos prontos, será deflagrada a grande tomada de poder. Aos berros de “Vambora cambada!”, uma tuia de matutos invadirão os parlamentos e palácios, além de todos os jornais e redes sociais e de TV do mundo inteiro.

Ninguém desconfia que Severino, vulgo Biu, humilde faxineiro da CNN (futura afiliada da TV Jornal do Commercio), é um professor do ITA que rapidamente conectará a rede de Atlanta aos nossos propósitos.

Invadiremos e tomaremos o estado da Bahia. Dinamitaremos a refinaria que eles nos roubaram há alguns anos. E já estamos construindo outra em Suape, em parceria com Hugo Chávez (leia-se: PDVSA). Por decreto, extinguiremos os times do Vitória e do Bahia.

Elegeremos um papa pernambucano (na verdade, cearense), Dom Hélder Câmara I, que canonizará Frei Damião e Padim Padre Ciço (mais um Ceará). Sua primeira bula determinará que doravante as hóstias sejam feitas com macaxeira, farinha de mandioca e rapadura, alternadamente ou os três ingredientes juntos. O vinho será substituído por uma cachacinha de primeira misturada com suco de uva do Vale do São Francisco (o de Assis, não o de Canindé!). Isso fará com que a economia pernambucana dê um salto triplo.

Os quadros de Romero Britto e as esculturas de Francisco Brennand ocuparão alas e mais alas do Louvre. 

O novo Secretário-Geral da ONU será Seu Lunga (mais um cabeça-chata cearense). Logo o conflito Israel-Palestina estará resolvido. Suas palavras: “Fios d’uma égua, bando de mulambeiros, a terra é seca do mesmo jeito, e o mar é da mesma cor. Deixem de botar banca que vocês nem vão notar a diferença. Venham pra Pernambuco que é muito maior que aquela tripinha de Gaza”. Eles poderão ficar perto de Fazenda Nova.

As aberturas das novelas globais terão como trilha sonora os seguintes temas: novela das seis, Lenine; das sete, Alceu Valença; das oito, Chico Science. O Big Brother terá trilha sonora de André Rios.

Nossos cientistas já desenvolveram uma poderosíssima arma, mais perigosa que a atômica, a Bomba do Hemetério. O Maestro Forró é mesmo um estouro.

Aperfeiçoaremos o Oscar. Novas categorias premiarão o melhor filme de Cangaço, a melhor cena de amor numa jangada, o melhor passista de frevo, o boneco mais bonito, o galo mais charmoso, o percussionista mais cabra-da-peste.

O cruzamento mais famoso do Brasil será Av. Norte/Miguel Arraes com Av. João de Barros. Em muito pouco tempo, ninguém mais se lembrará da “Ipiranga com Av. São João”.

O NE TV será transmitido em cadeia mundial.

OUTRAS MUDANÇAS:

 – o Rodeio será substituído pela Vaquejada;

– Garota de Ipanema será Garota de Porto de Galinha;

– O mundo inteiro cantará a Praia de Boa Viagem e ninguém mais lembrará de Copacabana; 

– Fla x Flu será um Náutico X Sport; 

– O Real Madrid será nosso Santa Cruz (peraí !!!);

– A Disneylândia será o Veneza Water Park;

– O Central Park será o Parque 13 de Maio;

– As escolas de samba serão substituídas por Maracatus;

– A Rua de Santa Rita será a 25 de março;

– O novo centro financeiro mundial ficará no Recife Antigo;

– O Vale do Silício será transferido para o Porto Digital;

– A praia de Maragogi será anexada ao estado; 

 

Colocaremos alguns pernambucanos nas presidências de alguns países:

– na França, João Paulo;

– em Cuba, Eduardo Campos;

– no Afeganistão, João da Costa (que fique bem longe daqui !)

– na Argentina: Elina Carneiro (filha de Nílton Carneiro – pois eu quero mais é que a Argentina afunde);

– nos EE.UU.,  Ariano Suassuna (o mais pernambucano dos paraibanos).

A capital do Brasil será Recife. A capital do mundo ainda será Nova York, mas rebatizada de Nova Descoberta; e vamos substituir aquela estátua cafona por uma ainda maior, do conde Maurício de Nassau.

O plano é perfeito. Não há como falhar. Cada vez mais nossos agentes se espalham pelo Brasi e pelo mundo inteiro. Só nos resta esperar, enquanto as engrenagens giram por si; de preferência, deitados numa rede, tomando água de coco.

Até a vitória!

Saudações Pernambucanas!

E que Padim Ciço ‘teje com todos nós!

SEJA AMIGO DE UM PERNAMBUCANO ENQUANTO É TEMPO; SENÃO VOCÊ TÁ É LASCADO!”

 

Autoria desconhecida. Se alguém souber, me avise! Texto genial!

#FF

Faz é tempo, viu, que não venho por aqui.

Bom, hoje o #FF vai para o blog do Di Vasca. Ironia e sarcasmo de sobra, com uma boa dose de inteligência e humor refinado.

Quem é ilustrador, designer ou áreas afins vai se enxergar em muitas das situações. (Como eu…)

O fim da digitalização

Com o início do século XXI, já é visível o fim da era digital: experts prognosticam que por volta do ano 2020 a tecnologia do silício não conseguirá mais ser miniaturizada. Até lá, a capacidade de crescimento das tecnologias digitais continuará a crescer, os chips se tornarão ainda mais rápidos, menores e mais baratos: a “Lei de Moore” (nomeada por causa de Gordon Moore, um dos co-fundadores do conglomerado americano Intel) estabelece que a quantidade de transistores que compõem um chip de silício dobra a cada 18 a 24 meses e seu preço se divide pela metade (Knop, 2003). Como esta lei não pode ser infinita, procura-se pesquisar novos sistemas de cálculos biológicos. Estes podem ser construídos como semelhantes ao DNA humano e serão – quando forem utilizados – novamente possíveis de resolver problemas análogos.

Vista desta forma, a era digital terá apenas uma fração mínima na história do desenvolvimento da humanidade, já que foram apenas algumas décadas. Durante este tempo foram e serão modificadas fundamentalmente as nossas relações com os produtos digitais. Isto é visível e experimentável em praticamente todos os aspectos de nossa vida.

Após a constatação, no século XX, de uma mudança de paradigmas e de direções no design – lembramos a “virada linguistica”, a “onda semântica” ou a “virada visual” – mostra-se para o século XXI uma tendência ainda mais espetacular: agora o homem mesmo estará no centro das atenções – fala-se de uma “virada biológica”. O filósofo alemão e professor de mídias em Karlsruhe, Peter Sloterdijk (2001), fala das novas “antropotecnologias” que se atêm a toda a humanidade. Como as experiências de sucesso de clonagem de animais e após ser decifrado o DNA humano, caíram os últimos bastiões, a configuração de seres humanos já é visível. O corpo humano está em foco, e não apenas da ciência.

Texto retirado do livro “História, Teoria e Prática do Design de Produtos”, de Bernhard Bürdek. Editora Edgard Blücher, 2006.

#FF

Nesta semana meu #FF vai para o Different Thinker, blog do Mário Amaya.

Lançar modelo 2012 no primeiro semestre de 2011 pode, Arnaldo?

Certa vez, vi uma propaganda da Nissan na tv avisando que a concorrência iria ficar ainda mais chateada com eles, pois estavam lançando a linha 2012 em Abril. De 2011. (tá, certa vez foi hoje…)

Alguém tem alguma explicação plausível para, ultimamente, vivermos dirigindo carros do futuro? Desse jeito, logo após o Show da Virada de 2015 aparecerá uma propaganda avisando que a linha 2017 já está à venda numa concessionária perto de você.

Bom, lembrando um pouco história do design, mais ou menos após a recessão os Estados Unidos precisavam, de alguma maneira, recuperar a sua indústria e o seu comércio. A II Guerra Mundial deu uma mãozinha quanto à isso. Em meados dos anos 50 o american way of life os conquistou como um viral da Rebecca Black nos dias de hoje. Todos os americanos “precisavam” ter um Cadillac “rabo-de-peixe”, enquanto todas as americanas morriam por um novo aspirador, uma nova geladeira. (Ainda era a época das famosas donas-de-casa das propagandas de revista, com seus dentes brancos, olhos azuis e pestinhas bem arrumados esperando o jantar). Todo esse fuzuê foi por uma coisinha que resolveram levar para o design industrial: o tal do face lift.

Os americanos estavam enchendo o deles de dinheiro, com a economia cada vez mais acelerada; mas a indústria, como a de automóveis, sofria do mal do produto bom demais. Sabe aquela história que a sua mãe sempre lhe disse e que os comerciais insistem em enfiar sua cabeça? “Mas essa não é, assim, uma Brastemp.” Pois bem. Os carros eram Brastemps. Isso significava que eram bons e duráveis. Uma pessoa, em seu estado normal, não pensaria em comprar um carro novo, se o seu ainda estivesse em bom estado de conservação. Foi ai que algum gênio (para a indústria, não para o consumidor e muito menos para o bolso dele) resolveu levar a ideia do face lift para a indústria.

Se os chamados bens duráveis duravam muito tempo (né?!), a maneira mais eficaz de fazer o consumidor comprar um novo produto era “maquiá-lo”. Se mudassem o desenho da lanterna e do farol, colocassem uma nova padronagem de tecido nos bancos e fizessem um novo desenho nas rodas, eles perceberam que poderiam vender aquele mesmo carro como um novo modelo, e assim atiçariam aquele consumidor que sempre quer ter o “carro do ano” na garagem. A economia acelerada, a gasolina quase de graça (bons tempos…) e a paixão americana por carros fizeram a ideia dar mais do que certo. Tanto que foi levada para vários outros tipos de produtos. E que faz sucesso até hoje. Inclusive aqui, onde o estilo de vida deles foi importado.

E é por isso que você compra um carro “novo” e acha que fez um excelente negócio. De fato, ele é zero quilômetro. Muitas vezes é um bom produto. Mas o seu projeto, se brincar, é o mesmo desde o início dos anos 90.

 

A Brastemp não patrocinou este post. Mas até que seria uma boa ideia. hêhê.

“Não diga que é pernambucano. Não se deve humilhar ninguém, meu filho.”

Por André Duarte. Vale a pena a leitura.

Pela primeira vez na história do jornalismo, o maior repórter em linha reta da revista mais arrojada da Rua do Veiga investiga as origens da megalomania local.

O Recife já não tem mais o maior shopping nem a mais longa avenida em linha reta da América Latina, Caruaru pode perder o posto de maior feira ao ar livre para uma concorrente do Equador e o Galo da Madrugada tem um bloco no Rio de Janeiro no seu encalço, querendo rifá-lo do Guinness Book. Mas quem se importa com isso em Pernambuco, uma terra superlativa, onde o “maior”, o “melhor” ou o “primeiro” parecem preceder qualquer coisa, mesmo que ela não seja positiva?

Aurora (www.diariodepernambuco.com.br/aurora), publicada pelo jornal mais antigo em circulação da América Latina, se debruça sobre o assunto e tenta explicar esse traço adjetivado do DNA pernambucano. Sobram teses e histórias bem-humoradas, mas os diagnósticos são variados: Mania de grandeza, bairrismo, ufanismo, soberba, megalomania ou orgulho. O fato é que o Leão do Norte, imortal como o seu hino, atracou de nariz ainda mais empinado no século 21, como um navio feito de madeira que cupim não rói ancorando no Porto de Suape. O “boom” econômico finalmente chegou depois de uma decadência que desafiou os brios mais armoriais.

Mas é como se os 381 anos que nos separam da chegada das primeiras embarcações da invasão holandesa, em 1630, nunca tivessem existido. Pesquisador e chefe do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Marcos Galindo explica que o talento do pernambucano para maximizar sua própria história remonta ao período da Proclamação da República, em 1889. “A gente teve que criar uma nobreza que não tinha (com a saída na monarquia portuguesa). E onde fomos buscar? Na história do Brasil holandês. Maurício de Nassau era um príncipe gentil, que trouxe pintores, poetas e construiu uma cidade”, avalia, ressaltando que a outra imagem do conde, a de tarefeiro da Companhia das Índias Ocidentais, foi colocada em segundo plano para não comprometer a montagem de uma identidade ainda verde.

Segundo o pesquisador, isso só foi possível depois que o professor, político e historiador José Hygino Duarte Pereira (1847-1901) viajou à Holanda, em 1885, para garimpar toda a papelada histórica. “O que os historiadores fizeram foi pegar esse fato histórico e criar uma situação que era produtiva para a identidade do Brasil que se construía”. Depois de transferir para a academia um assunto que só se falava em rodas de amigos, Marcos Galindo dividiu o estilo pernambucano de autopromoção em três expressões distintas: ufanismo, fanfarronice e megalomania:

“Ufanismo tem uma função social superimportante de autoafirmação e de construção da identidade. Quem está embaixo quer ir para cima. E no discurso só se consegue isso levantando seu moral e dizendo que tudo o que você faz é o maior ou melhor. É quando você diz, por exemplo, que a música de Chico Science é a melhor do mundo”.

“Fanfarronice é quando a gente diz que o Recife é o lugar onde os rios Capibaribe e Beberibe se juntam pra formar o Oceano Atlântico. Essa é uma ideia sofismática, que tem uma base lógica. Mas é uma lógica que é feita para causar uma resposta que não é verdadeira. É uma mentira”.

“Megalomania é quando você quer ser maior do que você é. O cara faz acreditando que é verdadeiro. É quando alguém diz que a Avenida Caxangá é a maior em linha reta do mundo. É algo patológico, que a gente cria. É uma macaquice que a gente utiliza pra rir da gente mesmo”.

O escritor e assessor de documentação da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) Paulo Gustavo conta a história de uma senhora de engenho que manda o filho estudar na Europa e pede pra que ele não diga a ninguém que é de Pernambuco. O filho não entende o pedido. Ela justifica: “Não se deve humilhar ninguém, meu filho”. Paulo classifica esse hábito local como uma marca do nativismo. “É como se fosse um fator de compensação por essa perda de prestígio pela qual o estado passou” avaliou, falando do declínio do setor sucroalcooleiro, que até a primeira metade do século passado encabeçava o status quo.

Entre idas e vindas dos Estados Unidos, onde morou, a cineasta pernambucana Luci Alcântara notou uma mudança drástica na autoestima do estado. “Na década de 1980, era aquela autoestima baixíssima. Quando eu voltei, já na metade dos anos 1990, era outra coisa. Todo mundo só queria ser as pregas de Odete”, brinca, usando um termo comum à época. Ainda em solo norte-americano, ela tremia de frio no inverno rigoroso de Chicago quando teve a ideia de fazer um filme sobre as exaltações maiúsculas dos seus conterrâneos.

Na ocasião, Luci acompanhava uma exposição do marido quando uma mulher elogiou uma tela com a paisagem de Pernambuco. “Eu já estava bêbada e disse a ela que o Recife era tão bom que tinha um chef de cozinha, um designer, um fotógrafo e um estilista em cada esquina. Aí ela ficou surpresa e disse que Paris era assim também. Foi quando eu falei que o Recife era muito melhor porque Paris não tem carnaval”.

Nascia O melhor documentário do mundo, um ‘documédia’ (mistura de documentário com comédia). O filme, todo entrecortado por depoimentos de músicos, escritores, artistas plásticos e intelectuais, tem como matéria-prima “a greia”, segundo a mentora, uma das nossas principais armas. A cineasta conta que o nome do projeto surgiu durante a pesquisa de roteiro, quando reuniu as cinco palavras que mais precedem os elogios: o primeiro, o único, o mais, o maior e o melhor. O documédia está 90%” pronto e a cineasta aguarda aprovação de editais de financiamento para finalizar o material. “Teve gente que disse que a pangeia (espécie de grande continente, que se fragmentou há milhões de anos, dando origem à América do Sul, África, Austrália e Índia) começou na Padaria Pangea, que tinha no Pina”. Alceu Valença, melhor cantor nascido em São Bento do Una, e o pintor João Câmara, que segundo suas próprias palavras só não é o maior do mundo porque nasceu na Paraíba, entraram na brincadeira e gravaram depoimentos. “O orgulho de todos os entrevistados é o mesmo, independentemente da classe social, nível educacional ou se é um artista de vanguarda ou tradicional. Na verdade, quando tocamos nesse assunto, o bom humor vem à tona. A gente não leva isso muito a sério”.

O apresentador e produtor cultural Roger de Renor costuma dizer que “Recife é a maior cidade pequena do mundo”. “Recife tem tudo de ruim que uma cidade grande tem, como os engarrafamentos e os shoppings, mas por outro lado tem aquele provincianismo de cadeira na calçada, de todo mundo se conhecer porque Fulano estudou com Sicrano ou é casado com Beltrano”.

Roger tem uma definição na ponta da língua para o fenômeno: “É a egolombra”. Até que leva na gozação, mas reclama quando o recurso é usado de forma exagerada, sem autocrítica. “O que fica de legal é o bom humor, desde que ele leve a uma discussão”. Cita como exemplo o Galo da Madrugada. “O fato de ser o maior bloco de carnaval do mundo não representa nada. Gostaria que fosse o melhor, e não o maior. Ali não cabe nem 1 milhão de pessoas. Qualquer carnaval desses eu vou lá numa esquina pra contar um por um. É o jeito”.

Brincadeiras à parte, os bons ventos na nova economia de Pernambuco, que vieram a reboque dos investimentos do Porto de Suape, só colocaram mais lenha numa espécie de fogueira das vaidades. O consultor de empresas Francisco Cunha, diretor da TGI e coautor do livro Pernambuco afortunado (Editora INTG), alerta que, ao mesmo tempo em que os pernambucanos supervalorizam a sua terra, o estado ainda sofre de uma estranha “vergonha” de fazer propaganda aos vizinhos. “É contraditório. Na verdade, é uma soberba”, diz.

Cunha busca explicação para tal comportamento no apogeu da década de 1950, sucedido por uma franca decadência “econômica, política e cultural” que durou até meados de 1990. Os sintomas ele costuma chamar de “ciclotimia” (segundo o Aurélio, “predisposição a mostrar alternâncias de comportamento que ora é de depressão, ora de excitação”).

Nas palestras que concede a empresários e gente que move a engrenagem local, o consultor deixa claro que Pernambuco precisa de um divã. “Antes vivíamos numa redoma e agora estamos diante de um mundo globalizado. Se essa soberba continuar, as empresas de Pernambuco vão quebrar porque não saberão se atualizar. É uma contradição danosa. É aquela coisa: eu sou bom e os outros é que têm que achar isso”, critica Francisco Cunha.

A tese do ufanismo nacional encontrou sua primeira ressonância há pouco mais de um século, quando o escritor Afonso Celso escreveu Porque me ufano do meu país. Vários trechos tecem generosas loas ao Brasil. Uma apologia em forma de livro, que também repercutiu no Nordeste. “Somos uma grande nação. Ampla porção do mundo nos pertence. Formamos um conjunto solidário do qual nada perdemos, há quatrocentos anos, apesar de poderosos governos terem tentado, por vezes repetidas, arrancar-lhe pedaços”, aponta o autor.

Admirador do livro, Marcos Galindo defende o ufanismo com unhas e dentes. “Imagine se a gente só destacasse o que temos de ruim. Isso não poderia mascarar o que temos de bom? O ufanismo é um fenômeno social humano. Não é uma coisa ligada só ao povo pernambucano. Os norte-americanos são a prova dessa forma de ufanismo. Tudo pra eles é maior e melhor”.

O escritor Paulo Gustavo arremata: “A gente diz que a pátria nasceu em Jaboatão dos Guararapes, onde aconteceu a Batalha dos Guararapes, mas se você for ao Museu do Ipiranga, em São Paulo, eles falam a mesma coisa. Isso sem falar do baianismo. Mas todo excesso nunca é bom”. A cineasta Luci Alcântara aposta num meio-termo. “Ufanismo é muito feio. Quando é megalomania fica uma coisa mais jocosa, mais engraçada”.

Já Roger de Renor vai no caminho inverso: “Até nas coisas ruins tem disso aqui. Dizem que o Aníbal Bruno é a maior penitenciária da América Latina e que o Recife é a cidade com mais ataques de tubarão no mundo. Tem até campanha de supermercado que diz ter orgulho de ser nordestino. Parece aquela coisa: ‘Vivo na merda, mas sou feliz’”. Enquanto toma o tradicional chá das 5 da tarde e saboreia uma fatia de bolo de rolo com seus colegas imortais, o presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), Marcos Vilaça, costuma fazer uma “pequena-grande” correção sobre a tal mania de grandeza do Pernambucano: “Não temos essa mania. O que temos é a grandeza mesmo”.

Ranking da Megalomania

Recife já teve o MAIOR SHOPPING da América Latina em área construída, mas o empreendimento agora está na sétima posição no país, segundo dados da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce).

A AVENIDA CAXANGÁ não é a maior da América Latina em linha reta da América Latina. Juiz de Fora (Minas Gerais) e Palmas (Tocantins) reivindicam o título. A Caxangá tem 6 quilômetros de extensão, mas a Avenida Teotônio Segurado, em Palmas, tem 14 quilômetros, sendo 12 em linha reta.

Em Pernambuco está o maior teatro ao ar livre do mundo, em FAZENDA NOVA. A cidade-teatro ocupa cerca de 100 mil metros quadrados. A cidade de Caruaru diz ter a maior feira ao ar livre do mundo, mas a cidade de Otavalo, no norte do Equador, também afirma que o título é dela. Não há dados comparativos oficiais entre as duas cidades.

O Recife tem o segundo maior POLO MÉDICO do país. A avaliação é feita pela Confederação Nacional de Saúde com critérios nem sempre objetivos. Leva em conta, além do número de atendimentos e leitos, os recursos tecnológicos.

O GALO DA MADRUGADA foi reconhecido na edição de 1995 do Guinness Book (o livro dos recordes) como o maior bloco de carnaval do mundo, com 1,5 milhão de pessoas. Em 2009 foram 2 milhões de foliões, segundo a diretoria. Os fundadores do bloco Cordão Bola Preta, do Rio de Janeiro, que no ano passado arrastou 1 milhão de pessoas, planejam ultrapassar o Galo em quatro ou cinco anos com a mudança do desfile para um lugar mais amplo.

 

“A Melhor Reportagem do Mundo”

Texto de André Duarte, publicado na Revista Aurora [Diário de Pernambuco]

O não-pensar vicia

Certa vez, escrevi em algum lugar que o não-pensar vicía. E é verdade. Não precisar pensar, realizar um trabalho maquinamente, repetido e constante, é um alento ao cérebro preguiçoso. E a preguiça contagia e acaba tomando controle do corpo inteiro. Seria essa a causa da letargia cerebral que acomete grande parte da população nesses dias de internet banda larga e obesidade mórbida?

Acabei de ler um artigo do Meio Bit onde um cara passou um verdadeiro sufoco com o suporte da HP (a empresa de computadores), pois ele estava para receber uma cômoda antiga do seu avô ao mesmo tempo em que o seu colega de quarto solicitara que a HP recolhesse um notebook para conserto. Algo comum nos Estados Unidos, deixar a encomenda na porta de casa revelou ser um péssimo negócio para ele. Mas não por culpa de nenhum ladrão de bem que estivesse pelas redondezas afim de notebooks perdidos. As empresas de entrega envolvidas (DHL e Fedex) ajudaram o suporte da HP nessa cacofonia.

Resumindo a história, que pode ser lida na íntegra aqui, levaram a caixa da cômoda que acabara de ser entregue como se fosse um notebook (WTF?), e o suporte da HP, não conseguindo reconhecer a antiguidade como um notebook (!), disse ao seu dono que não poderia fazer nada.

Não bastasse a estupidez do entregador, ou, mais precisamente, a sua falta de vontade de pensar (o entregador sabia que iria buscar um notebook), o suporte da HP ainda destruiu a cômoda, talvez procurando vestígios arqueológicos de um elo perdido do Notebookensis erectus.

Quer dizer que, se não está no manual, se não está na zona de conforto, as pessoas simplesmente não tem o senso crítico de resolver o problema? O que está acontecendo com os cérebros humanos, tão evoluídos? É muito McDonald’s na cabeça?

Depois desta história, eu juro que fiquei com medo da minha frase. E estou com medo de não-pensar novamente. Vai que eu viro um Neandertal desses…

P.S.: O pobre coitado teve sua idenização, no fim das contas. Final feliz para ele, mas não para a cômoda. E o pessoal do suporte também não usou as camisinhas e os lubrificantes. (Leia o artigo que você saberá do que estou falando!)

#FF

Esta semana, meu #FF vai para o Malvados. Cartoons geniais!

Impressões estudantis de uma igreja barroca

Logo na entrada, a clara e imposta percepção do mundo barroco jogado na nossa cara. A faixada, excessivamente adornada por curvas francesas. Uma apelação.

Seria isso uma apelação? O barroco, segundo constam meus estudos literários, surgiu em uma época que a igreja católica perdia muitos fiéis para o protestantismo. Seria, então, uma tentativa desesperada de reconquista? Talvez suborno?

O calor dos trópicos não perdoa a ninguém, nem mesmo ao mais fiel dos fiéis. Dentro da santa nave o calor é infernal. Como providência divina, o tempo se fecha, abrandando essa sensação, que iria contra os princípios do próprio barroco, o de tirar as pessoas do “inferno” (a palavra proibida mais uma vez) das ruas quentes para o conforto da casa de Deus.

Outra coisa que merece nota é o eficiente bloqueio sonoro que os arquitetos do século XVIII conseguiram naquelas paredes. O silêncio ali dentro só era quebrado por um zunido proveniente, provavelmente, (isso foi de propósito), de algum ar condicionado de alguma sala fechada da administração paroquial, além das dependências que um simples critão poderia ir. Como naquela época (1770) ainda não havia tal tecnologia, o silêncio só deveria ser quebrado pelos cânticos dos clérigos.

Luz é outro ponto importante. Por mais claro que esteja o dia, a igreja permanece na penumbra. A pouca luz que entra pelas pequenas e estreitas janelas do alto da cúpula é direcionada ao altar. A luz divina mostrando todo o seu esplendor ao povo.

Estava eu de pé, recostado na entrada da igreja, quando uma moradora de rua me aborda, perguntando-me se poderia usar o banheiro. Respondo-lhe, sinceramente, que não sei. Nunca havia parado para pensar se havia banheiros dentro de igrejas. Ao meu ver, aquele era um lugar sagrado, um templo onde as pessoas iam para rezar, para meditar. Buscar respostas, pedir ajuda. Como vi há pouco um senhor que entrou, ajoelhou-se perante Jesus morto aos braços da virgem Maria por alguns minutos, fez o sinal da cruz e saiu. Mas aquela moradora de rua que me abordara (que mais tarde vim saber se chamar Gisleide) talvez pensasse diferente. Talvez, para ela, meditar não tenha a menor importância. Talvez, para ela, a igreja seja apenas um local onde ela ganha seu pão pela manhã e onde ela possa usar o banheiro. Talvez, para ela, Deus não exista. Ou talvez ela tenha esquecido Dele. Ou Ele dela. Parece mais provável.

Entrando em uma igreja barroca do século XVIII, nos perguntamos. No meio de tanta opulência, tantas riquezas, como a Capela Dourada, logo ao lado, realmente haveria espaço ali para o povo? Não no sentido de entrar na igreja, pois “todos” (diga-se por todos, naquela época, os brancos que tivessem algum status social) podiam assistir à santa missa. Mas no sentido mais divino do cristianismo: “Todos são iguais perante Deus”. E que igualdade é essa?

A pergunta desapareceu no ar, sumindo, subindo e fugindo pelas estreitas janelinhas da cúpula. Tomara que algum anjo a ache pelo caminho.

Ensaio feito para a cadeira de Antropologia, na época da faculdade. Achei no meu caderninho de anotações.

Risos de uma quinta, para aguentar até a sexta.

Havia um engraçadinho carente embaixo da passarela que levava à rodoviária. Desviei meu olhar, porque quando algum deles nos veem querem logo um sorriso, gargalhada, essas coisas baratas. Não adiantou a alegria.

– Hei, tio, me dá um trocadilho.

– Desculpe, mas só estou com a minha risada de trabalho.

– Tio, é um trocadilho pra comprar uma tirada.

– Sei. Vai é atrás de 140 caracteres de alguma droga! Onde estão seus pais?

– Tão lá no semáforo fazendo stand up. Era pra eu tá vendendo gracejos. Se eles sabem que estou pedindo me matam de rir.

– Eles tinham algum tipo de trabalho? Como faziam pra manter o hilário do mês?

– Bem, o último trabalho deles era uma piada.

– Hum, daí resolveram partir pra piada vagabunda. Você deveria estar na escola. Pensando em ser no futuro um homem de grande ironia.

– Sarcástico assim como o senhor?

– Não sou tão sarcástico como você pensa. Eu só trabalho duro pra ter o meu cinismo. Minha carteira está vazia. Não tem nem graça.

– …

– Pare de me olhar assim. Vamos, pegue essa deixa. E pense naquilo que eu te disse.

– Obrigado, tio. O senhor tem um bom humor.

Texto do Tio Dino.


Eu, Escritor